Projeto Diálogos com a Pastoral Carcerária do Ceará
Relatório do “Projeto Diálogos” com a Pastoral Carcerária.
Encontro em 13 de maio de 2022.
Dando prosseguimento ao projeto “Diálogos”, o
PET História recebeu no dia 13 de maio de 2022 uma comissão representante da
Pastoral Carcerária do Ceará formada pela advogada e mestra em direito Ruth
Leite Viera e pela mestranda em História Cynthia Corvello.
Foram apresentadas as diretrizes político-sociais da pastoral e discutimos as
possibilidades de atuação em conjunto com os bolsistas.
O
primeiro momento foi de apresentação da Pastoral e de suas representantes, Ruth
e Cynthia. A Pastoral Carcerária do Ceará está ligada à Comissão Nacional dos
Bispos do Brasil (CNBB) e suas diretrizes se baseiam numa articulação entre o
Evangelho, o Direito e discussões teóricas acerca da criminalidade e saúde
pública. Busca-se viver a caridade voltada para a classe mais estigmatizada: os
encarcerados/as. “Por um mundo sem prisões” é o lema da Pastoral no Brasil que
possui 50 anos. O principal objetivo da organização, no momento, é o combate à
tortura penitenciária, que se reinventou nos últimos anos. A Pastoral atua a partir
do anúncio do Evangelho e da denúncia das práticas ilegais. Busca parametrizar
suas ações pela metodologia da Justiça Restaurativa com foco no VOC (vítima,
ofensor e comunidade). Com isso, foi destacada a realidade e sucesso desta
metodologia nos Países Baixos.
Em
seguida, Cynthia apresentou sua pesquisa de mestrado em torno do encarceramento
de mulheres em Fortaleza. Alguns dos pontos interessantes levantados foram
estes: a patologização das criminosas, os crimes como sendo historicamente
construídos e atribuídos a sujeitos específicos. A mestranda também destacou a
metodologia da Pastoral, que atua fundamentalmente com base na escuta. Foram
colocados exemplos de atuações nos presídios e as dificuldades que elas
carregam. A discussão seguiu, então, para o papel político dos historiadores
quanto à realidade a sua volta e maneiras de efetivamente desempenhar esse
papel.
Como
demandas específicas foram apresentados os seguintes pontos: 1 – Produção de
informação/dados: pensar sistematicamente, coletar dados, realizar
entrevistas/depoimentos. O objetivo é se esquivar da denúncia de “boca” e criar
dados sólidos que possam seu utilizado pela Pastoral. A Pastoral conta apenas
com três pessoas para realização de todo o trabalho; 2 – Atenção às famílias de
pessoas encarceradas e comunidades periféricas (Pirambu); 3 – Trabalho dentro
dos presídios com foco na acolhida e formação da população carcerária; 4 –
Trabalhar a documentação do acervo da Pastoral existente em seu escritório; 5 –
Trabalhar com as ATAS do Conselho Penitenciário desde 1920 que estão na
Secretaria de Administração Penitenciária; 6 – Captação de recurso/assessoria
em projetos; 7 – Auxílio nas mídias sociais (ver exemplo da Voz do Cárcere); 8
– Atuar como mediador a partir dos princípios da Justiça Restaurativa (a
Pastoral capacita a partir da Escola de perdão e reconciliação e de outras
habilidades técnicas necessárias); 9 – Investigar a história e memória das
manifestações frente ao aprisionamento de pessoas no Ceará; 10 – Formação
básica em princípios da informática; 11 – (extra) Demanda de 8h por semana de
cursos de formação para quem cumpre pena alternativa.
Foi
aberta, então, o primeiro bloco de perguntas. Matheus Gerard, membro do grupo,
articulou as questões expostas com a literatura e questionou se a organização
atua com a infância e a adolescência. Ruth afirmou que sim e destacou as
conquistas e dificuldades em torno desse público em específico. Outra bolsista,
Carol Linhares, questionou se a Pastoral Carcerária discute a questão do
Abolicionismo penal e Ruth revelou que sim, mas numa medida muito pequena. A
discussão seguiu para o código penal e as possibilidades de descriminalização
de artigos em vias de obsolescência.
O
professor e tutor Mário Martins seguiu com a mediação e se iniciou um novo
bloco de perguntas que discutiam a APAC e o Direito Penal.
Reiterou-se
que as principais carências da Pastoral estão em torno da falta de formação
técnica, estudos e pesquisas na área penal, assim como o déficit de pessoal.
Neste encontro, não foram discutidas propostas de intervenção do PET História
ou do seu departamento, mas manteve-se a ideia fundamental de escuta e análise
para discussões futuras.
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